Raposa Serra do Sol

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Terras de Makunaima

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

NEM IN-DIOS E NEM DEUS

Minha gente, como todos viram claramente, nenhum dos dois candidatos, nem a eleita em seu pronunciamento antes e após a vitória, em momento algum falou a palavra “DEUS” ou “INDIOS”.

Nem tampouco utilizou o rosto de qualquer parente indígena durante as campanhas, onde Lula, quem elegeu Dilma, caiu fora quando disse que não vai interferir em suas decisões. É ridículo ver nossas lideranças fazendo valer o velho ditado que diz que quando não podemos com nosso inimigo o melhor é mesmo unir-se á eles, e ficam discutindo, ou celebrando a vitoria dos não indígenas que se mantém no poder, e pouco fez por nós.

Vejo que o calor da campanha e as agressões entre os parentes indígenas não se encerraram, mesmo após a eleição, e mesmo ouvindo em tom positivo, de fé e esperança que TEMOS QUE NOS UNIR, E INDIO TEM QUE CONFIAR EM IN-DIOS SE QUIZERMOS AVANÇAR. Certíssimo!

Mas estamos longe desta realidade, hoje tão vitoriosa entre os negros, o MST e os gays, que sua força veio da união, formula infalível para se discutir política publica e governo. É importante lembrar que quando eles descobriram que 70 milhões de brasileiros acessam a internet, se apoderaram desta ferramenta e colherem assinaturas, válidas por e-mails, de pessoas de dentro e de fora do seu movimento que aderiam à causa.

Na minha humilde e simples opinião, é fácil ver que a forma como os não indígenas transformaram e deixaram este mundo, ficou impossível de nós indígenas vivermos aos moldes da nossa cultura indígena primitiva e tradicional. Eles criaram um mundo onde tudo é igual: a mentira e a verdade, o verdadeiro e o falso, o feio e o bonito, o assaltante e o assaltado, a vítima e o delinqüente e até a estuprada e o estuprador. Vimos e ainda vemos claramente as verdades em suas mentiras e as mentiras em suas verdades dentro e fora das campanhas políticas, quando mudam os discursos para obterem mais votos.

Mas é por isto que eu venho aqui pedir um pouquinho de sua preciosa atenção para dizer que, se olharmos este modelo de novo mundo, que existe fora da nossa cultura indígena, sentimos e creditamos que o projeto de vida mais seguro e eficaz para este mundo deles, e até mesmo para o nosso mundo indígena, foi o anunciado através das palavras e ações de Jesus Cristo, que como nós também nasceu em uma oca, ou manjedoura de chão de terra batida, entre bichos, era nômade, sem endereço, vivente das Aldeias de Samaria, seus inimigos, e de seus amigos da Aldeia de Cesaréia, era da Tribo de Judá. Então Jesus Cristo é nosso Parente!!

O mundo ensinado por Ele era o do ser para ter e não ter para ser. Este projeto divino se adapta a todas as culturas justas, familiares, sociais e desprendidas de riquezas, não se esgota em nenhum regime de governo e vimos que ele não se reduz apenas a uma melhor organização social e política da sociedade, mas adéqua e contempla a preservação da vida humilde e sem guerras, mas isto quando praticado.

Entendo que é este projeto de reino moral, social, sem egoísmo e sem preconceito, que tanto sonhamos e até declaramos quando oramos “venha o teu reino”. Diante de tantas injustiças e preconceitos com os povos indígenas ao longo destes anos, nós ainda cremos que um dia, quem sabe este reino virá, não apenas de forma espiritualista e restrito aos corações, mas, principalmente na transformação das estruturas sociais e políticas do Brasil e deste mundo; porque, da forma em que vive este mundo, acredito que, se não nos unirmos, em duas ou três gerações já não existirá mais os povos indígenas, que á 510 anos atrás éramos seis milhões, ou mais, e hoje estamos reduzidos á menos de 10% por falta de políticas publicas e direitos não praticados.




Cacique Robison Minguel
NOVA CONFEDERAÇÃO DOS TAMOYOS

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