Raposa Serra do Sol

Raposa Serra do Sol
Terras de Makunaima

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

UM GUERREIRO TOMBOU, MAS NÃO PERDEMOS A BATALHA E NEM A GUERRA.

Assassinatos de lideranças indígenas anunciados e marcados com dia e hora para acontecer, isso é novo pra mim. Já se vão 30 anos de militância no movimento social e nunca vi isso e a minha maior indignação é que os órgãos públicos responsáveis pela proteção foram os primeiros a tomar conhecimento desse anúncio. Pq o Sistema Nacional de Proteção dos Defensores de Direitos Humanos não funciona para indígena? Pq não funcionam as políticas públicas de assistência da FUNAI? Pq os gestores da FUNAI agem contra os direitos e os interesses dos indígenas? Pq os próprios gestores tem tanto ódio e raiva dos indígenas e nenhum procedimento ético/disciplinar é movido? Pq o MJ e a FUNAI firmaram convênios com os Estados para o uso da força policial contra os indígenas? Pq o governo do PT mantém essa gestà £o perversa, maliciosa e que atenta contra os direitos e os interesses indígenas? Pq a Ministra da Igualdade Racial, a pretexto de exaltar o dia da consciência negra, omitiu o ocorrido?

Toda solidariedade ao povo Kaiwa.


Arão da Providência

De Marçal a Nisio – semente e sonho Guarani

Egon Dionisio Heck


“Há 28 anos quiseram fazer calar a voz do líder indígena Marçal, o grito foi além fronteiras e fez ao mundo dirigir o seu olhar para o povo Guarani-Kaiowá , porque é forte o grito dos homens, que estão juntos como um arco-íris no abraço de Mar a mar. Vamos continuar a gritar a invencível causa dos pobres, como irmãos e irmãs com o amor da Mãe Terra, como um sinal de bondade de ternura e vida plena, acreditemos na proposta de vida dos povos indígenas.” (Francy Perez)

As milhares de manifestações, de atos contra a impunidade e solidariedade ao povo Guarani, são um claro de que é necessário dar um basta a esse massacre e genocídio dos povos nativos desta terra. Essa guerra secular tem que acabar!

“É o que está acontecendo neste Estado, onde, em ondas sucessivas de repetidos assassinatos contra grupos indígenas, semeia-se ao lado de corpos crivados de balas, a sensação de que se vive num Estado cuja lei só submete os pequenos. Enquanto aguardam pela identificação e delimitação de suas áreas, um a um do povo Guarani vai tombando, semeando cruzes, misturando-se ao pó e ao capim broquearia e a cana, e seu dono, de hálito de pólvora e bovinos métodos de extermínio.” (Carlos Alberto – “Acorda Mato Grosso do Sul” – novembro 2011))

Contra a impunidade e em defesa dos povos indígenas do Mato Grosso do Sul

“Queremos justiça, queremos justiça!” Em coro, mais de 300 pessoas, gritam no auditório da Assembléia Legislativa do Mato Grosso do Sul. A voz potente de Mercedes Sosa, pede que não sejamos indiferentes ante tantas vidas matadas, num mundo tão injusto! De Marçal Tupã’i a Nisio Kaiowá Guarani, muitas vidas foram plantadas no chão encharcado de sangue. Forte emoção no plenário. Uma criança Kaiowá entra trazendo uma vela acesa. A luz não pode ser sepultada. Nisio, assim como Marçal e centenas de lideranças desse povo irão iluminar os passos na reconquista de suas terras.

No documento assinado por mais de setenta entidades, é exposta a gravidade extrema da violência e as urgentes e necessárias providências “O atentado contra Nísio Gomes e sua comunidade reflete ao mundo um dos piores quadros de violações de direitos humanos contra povos originários. Os índices de terras ocupadas efetivamente pelos povos indígenas de Mato Grosso do Sul maculam a medida do bom senso, com reservas superlotadas e infestadas pela falta de condições dignas de vida para seus habitantes....A agressividade em que os setores contrários aos direitos indígenas impõem seus interesses é intolerável, mas tem sido respaldada pelas omissões do Estado brasileiro. O Brasil não poderia reivindicar espaços nos órgãos internacionais, como a ONU, defendendo direitos de povos no mundo afora sem sequer ter reconhecido os direitos dos povos brasileiros. Uma contradição insustentável que deve ter atenção especial dos organismos nacionais e internacionais”

Para finalizar o ato, o deputado Pedro Kemp,batalhador da causa e propositor do evento, convidou os presentes para cantar com ele o hino em homenagem a Marçal, para lembrar os 28 anos em que ele foi plantado nessa terra para dar certeza de que os Guarani terão de volta as terras que lhes pertencem secularmente. “Marçal, Marçal, tua morte só apressa o dia em que o alto preço dessa covardia será cobrada pelos Guarani”, O ato começou com a emoção do hino nacional cantado em Guarani, e terminou com essa linda canção em homenagem aos lutadores, heróis e mártires desse povo.

Uma comissão da Secretaria de Direitos Humanos da Presidencia da Reepública esteve no local para se inteirar dos fatos e tomar algumas providencias imediatas “segundo Ramaís Silveira, enquanto houver um impasse sobre a posse das terras, equipes da Força Nacional serão mantidas na entrada da fazenda. A medida foi tomada pelo governo brasileiro para evitar outro CONFLITO na área.” É uma vitória da terra e de seus filhos.

A Polícia Federal considera que as investigações estão bem avançadas. "Os vestígios de sangue estão sendo analisados pela perícia. Pela quantidade de sangue encontrada no local pode se afirmar com convicção que o ferimento que o cacique tenha recebido foi mortal", revela Edgar Marcon, superintendente da Polícia Federal de Mato Grosso do Sul. (G1, 25-11-11)

Comitê Nacional de Defesa dos Povos Indígenas do Mato Grosso do Sul

A indignação deve se transformar em ações concretas em solidariedade transformadora. E movimentos sociais, acadêmicos e de instituições nacionais como a OAB, trataram logo de criar um instrumento em defesa permanente dos povos indígenas deste estado, para colocar um basta nesse processo de morte, de genocídio. No dia 24 deste mês foi criado um organismo integrado por mais de 40 entidades regionais e nacionais com o objetivo de “defender a população indígena contra todas as formas de violência, seja por ação, ou por omissão, seja por parte de particulares ou do poder público.”

Os trata como forasteiros,

Como se não fossem daqui!

Da grande Nação Guarani,

Explode o grito de dor,

Queremos justiça,

Devolvam os corpos

Roubados, a paz matada,

A terra sagrada,

Para continuar plantando

Nossos sonhos

Com o sangue semente,

Com o sorriso de Nisio,

A veemência de Marçal,

A sabedoria ancestral!

Amanhã será um novo dia,

De viver com alegria,

No chão da liberdade

E da terra reconquistada!

Mba’e japa

Egon Heck

Povo Guarani Grande Povo

Cimi 40 anos, novembro de 2011

Assim como em 1980 em Campo Grande se criou a União das Nações Indígenas – UNI, da qual Marcal Tupã’i era vice presidente, aqui se cria um instituição nacional em defesa dos dieitos dos Povos Indígenas. No encontro de fundação já foram indicadas algumas ações concretas, como o encaminhamento de uma ação à Organização dos Estados Americanos – OEA e solicitar a intervenção na fronteira do Mato Grosso do Sul, para evitar que novas violências sejam perpetradas contra os Kaiowá Guarani e Terena.

Semeando cruzes e sonhos

O dia amanhece!

Sobre as cruzes Guarani,

Cresce o capim,

A soja e a cana,

No caldo amargo

De vidas moídas

Na engrenagem

Do sistema de ambição!

Outro dia amanhece

Cresce a revolta,

Forma-se um turbilhão,

Da gente Guarani Kaiowá,

Dizendo - Alto lá!

Chega de invasão e morte,

Queremos justiça,

Que é vida, paz,

Liberdade ,

No caminho

Da terra sem males!

Anoitece!

O Brasil fecha os olhos

A seus filhos primeiros,

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Desperta Mato Grosso do Sul!

A realidade dos massacres contra os povos indígenas em Mato Grosso do Sul desde há muito se mantém escondida nas dobras da história mal contada pelos memorialistas e seus feitos heróicos que praticamente inventaram esse Estado de feições e cores multiculturais. Eis que agora, entretanto, esse caldo de cultura toma corpo e salta aos borbotões em rios de sangue, dizendo que nada vai bem nestas terras Guarani e Ofaié.

Desde o vergonhoso caso Marçal Guarani que se arrastou décadas pelos escaninhos da impunidade, passando por Marcos Verón e tantos outros que trilharam a estrada e tombaram na busca pela terra sem males, até chegar no massacre ocorrido em Guaiviry, que vitimou o cacique Nísio Gomes, em Aral Moreira-MS, barbaramente assassinado no dia 18 último, os ‘sonhos Guarani’ ainda estão por vir....

A centena de acampamentos de lona preta ao longo das estradas federais e estaduais, e as dezenas de áreas em litígio ocupadas por indígenas que reivindicam o direito de primis ocupandi, há muito deixaram de freqüentar as estatísticas dos órgãos governamentais agrários e fundiários; há muito deixaram de compor a minuta dos projetos de pesquisas acadêmicas e ser objeto de minuciosas monografias, dissertações e teses universitárias. Agora o que se tem é a dor e a realidade cruenta que salta do papel e respinga na cara de todos, para que o cidadão desperte.

A maior parte dos processos de regularização fundiária das terras indígenas em Mato Grosso do Sul padecem de um vicio congênito que é o de submeterem-se à ingerência do poder político local, à semelhança das velhas cepas dos coronéis da república que primeiramente povoaram e praticamente tomaram de assalto ambos os lados das faldas da serra de Maracajú, no pós-guerra contra o Paraguai. Por isso as demarcações de terras se arrastam no tempo, expondo a fragilidade indígena ao mando da força e o jugo dos grandes proprietários de terras.

É o que está acontecendo neste Estado, onde, em ondas sucessivas de repetidos assassinatos contra grupos indígenas, semeia-se ao lado de corpos crivados de balas, a sensação de que se vive num Estado que só submete os pequenos. Enquanto aguardam pela identificação e delimitação de suas áreas, um a um do povo Guarani vai tombando, semeando cruzes, misturando-se ao pó e ao capim braquiária e a cana, e seu dono, de hálito de pólvora e bovinos métodos de extermínio.

“A situação de insegurança e medo vivida pelas populações indígenas é insustentável”, escreveram os alunos indígenas da Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul (UEMS), Unidade de Amambai, incentivados pela professora e antropóloga Aline Crespe, como forma de protesto. Diversas outras comunidades, pesquisadores e entidades solidarizaram-se com a denúncia, mobilizando uma corrente de divulgação que alcançou o resto do país e o exterior em defesa dos povos Guarani e demais povos indígenas que vivem situação semelhante de violência e crueldade.

Na arqueologia dos fatos a descrição dos estudantes é revoltante: “Por volta das seis horas chegaram os pistoleiros. Os homens entraram em fila já chamando pelo Nísio. Eles falavam: ‘segura o Nísio, segura o Nísio’. Quando Nísio é visto, recebe o primeiro tiro na garganta e com isso seu corpo começou tremer. Em seguida levou mais um tiro no peito e na perna. O neto pequeno de Nísio viu o avô no chão e correu para agarrar o avô. Com isso um pistoleiro veio e começou a bater no rosto de Nísio com a arma. Mais duas pessoas foram assassinadas. Alguns outros receberam tiros mas sobreviveram (...)”.

A indignação só não é maior porque essa violência toda tem nome e o endereço de seus autores é conhecido por todos. Os assim chamados governantes deste Estado há muito solapam a sorte indígena e lucram com eles. Porque prostituir, alienar e matar indígenas de fome, de doença, pelo uso do agrotóxico, pelo trabalho escravo ou vendo-o atropelado na via pública que cruza esta terra de cerrados e pantanais, os Órgãos Governamentais há tempo assistem esse quadro sem nada fazer para salvar este povo do extermínio e alcançar-lhes um cadinho de justiça.

É urgente que a sociedade sul-mato-grossense desperte do sono da indiferença e indigne-se com o seu preconceito, passando a pressionar os poderes instituídos a reverem suas ultrapassadas teses em relação à posse e o uso da terra e a sua relação com os povos indígenas. Porque não é mais possível ficar indiferente diante das páginas dos jornais e das imagens na internet que desnudam a omissão de um Estado que finge ter orgulho de possuir a segunda maior população indígena do país e ao mesmo tempo envergonha-se de nada poder fazer por ela.

Por fim, no campo da ordem pública urge rever a prática do judiciário Guaicuru, cujas decisões refletem jurássicos conceitos, paridos ainda no tempo das frentes de expansão agropastoril capitalista que adentraram o solo do Oeste brasileiro, e cujas decisões do alto do pretório, até hoje, só têm resultado em dor e morte para as populações nativas do campo.

Mais do que a letra fria da lei, espera o cacique Nisio Gomes, a exemplo do saudoso cacique Marcos Verón e seu colar de lágrimas de Nossa Senhora no peito já descansando em terra estranha, que o momento seja de despertar: hora de dar um basta a essa visão carcomida de legalidade praticada pela classe mandatária de um Estado onde ‘um boi vale mais que uma criança indígena’, e onde homens venerados, à lá Hans Kelsen, acostumaram-se a pregar o Direito sem nunca ter de falar de Justiça.

Carlos Alberto dos Santos Dutra - mestre em História e pesquisador da UFMS.

Publicado em http://dutracarlito.com/desperta.html.

VENCEREMOS O IMPÉRIO DA MORTE!

Quando a terra mãe era nosso alimento,quando a noite escura formava o nosso teto, quando o céu e a lua eram nossos pais, quando todos nós éramos irmãos e irmãs, quando os nossos caciques e anciãos eram grandes líderes, quando a justiça dirigia a lei e sua execução... Ai outras civilizações chegaram com fome de sangue, de ouro, de terra e de outras riquezas, trazendo muna mão a cruz e na outra a espada, sem conhecer ou querer aprender os costumes de nossos povos, nos classificaram abaixo de animais, roubaram nossas terras e nos levaram para longe delas, transformando em escravos os filhos do sol. Entretanto não puderam nos eliminar e nem nos fazer esquecer o que somos... e mesmo que o nosso universo inteiro sejam destruído nós sobreviveremos além do império da morte!

(Declaração Solene dos Povos Indígenas, escrita em 1975)

Estamos vivendo em uma época de crises onde a população indígena do Brasil em especial os povos de Mato Grosso do Sul vivem momentos de horrores, medo, lágrimas, sangue, dores e mortes.
No mês em que comemoramos o dia da Proclamação da República (15), pergunto eu como povo. Que república é essa? Quais são seus beneficiados? Quem a dirige?
E por falar em república. Vivemos em um estado “republicano” onde seus dirigentes de forma meio despolitizada, com muita democracia, mas, com pouco espírito republicano, lado a lado com as desigualdades de poderes articulam seus domínios e permanência na elite social carregando com sigo um mundo de preconceito e racismo, submetendo as classes indígenas à espoliação de suas culturas com assassinatos de crianças, jovens, adultos, líderes, professores e estudantes. Fato este tem como o exemplo o cacique Nisio Gomes do acampamento Tekoha Guaviri, município de Amambai, assassinado no dia 18 de novembro de 2011.
A população indígena do MS, esta sobrevivendo em meio a uma verdadeira guerra civil criada pelo Estado Brasileiro devido e exclusivamente pela falta de competência de seus dirigentes políticos que atuam sobre a nação originária destes pais de forma autoritária, antidemocrática, fascista, influenciando ações terroristas, milícias armadas com ódios da desigualdade somados ao “ódio racional”, paradigma do século XX onde a vitória desta guerra sempre é dos donos do boi, do grão e das usinas sucroalcooleira. Estado extremista!
Um fenômeno que não consigo entender como um país que se destaca pelas políticas de direitos humanos, segundo visões internacionais e das mídias classistas, esse Estado em momento algum permitiu um diálogo aberto com os habitantes tradicionais da nação brasileira negando direitos que são reivindicados há muito tempo pelos verdadeiros donos deste solo, direito este garantido pela atual Constituição da República Federativa do Brasil desde 1988.
Onde está o comprimento constitucional?
CAPITULO IV – ARTIGO 129: São funções institucionais do Ministério Público: V – defender judicialmente os direitos e interesses das populações indígenas;
CAPITULO VII – ARTIGO 67: A União concluirá a demarcação das terras indígenas no prazo de cinco anos a partir da promulgação da Constituição;
ARTIGO 231: São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras tradicionalmente ocupam, competindo a União demarcá-la, proteger e fazer respeitar todos seus bem. Já se passaram mais de 23 anos contanto com os dias atuais, nós indígenas percebemos a ausência de vontade politica por parte de Estado Brasileiro de cumprir uma pequena parte da constituição brasileira considerada a Carta Magna que rege esta nação.
A nossa indignação como verdadeiros povos habitantes desse pedaço de chão chamado Brasil, baseia se no fato de há muito tempo a nossa sociedade vêm elaborando complexos sistemas de pensamentos e modos próprios de produzir, armazenar, expressar, transmitir, avaliar e reelaborar nossos conhecimentos e nossas concepções sobre o mundo, o homem e o sobrenatural.
Apesar de depararmos como uns dos períodos mais sangrentos da história da sociedade indígena, nosso povo jamais irão desistir de lutar. Em nome dos nossos irmãos perseguidos, mortos e enterrados as nossas forças sempre se renovará.
Lutar sempre desistir jamais.

VALDEVINO GONÇALVES CARDOSO.
TERENA – MS.

A Luta pela Terra por Quem Precisa Viver – A dura realidade das etnias do Mato Grosso do Sul

O estado de Mato Grosso do Sul concentra-se a segunda maior população Indígena do Brasil, perdendo apenas para o Amazonas. A diferença entre o Mato Grosso do Sul e restante no Brasil é que esse estado bate recorde em números de mortes de Indígenas, que segundo dados do Conselho Indigenista Missionário entre 2003 e 2010 foram assassinados 250 índios, e que se somássemos todos os números de morte de índios nos estados restantes da federação alcançaríamos um total de 202 indivíduos. Outro fato alarmante e preocupante é a questão territorial, um total de 45 mil índios divide um espaço que corresponde 2% do estado. Enquanto isso, o agronegócio se apropria de mais de 55% desse território.

A luta pela sobrevivência das etnias indígenas do Mato Grosso do Sul está relacionado a um erro cometido pelo antigo Serviço de Proteção ao Índio – SPI, que em 1920 reuniu em um único pedaço de chão várias etnias e pela demora na demarcação de suas Terras. Por esse erro a população indígena paga ate hoje, vivendo entre as promessas dos governos e a incerteza de tê-los suas terras de volta.

Com a demora na demarcação das Terras Indígenas, essa população por meios de suas articulações, começaram a organizar as retomadas, montando vários acampamentos, muito destes localizados a beira das estradas. A Situação se agravou, pois a articulação do Povo Indígena no Mato grosso do Sul chamou também a atenção dos latifundiários que contrataram empresas de seguranças, capangas e jagunços para uma única função: A de matar índios!

Não muito diferente do que aconteceu no passado, esses indivíduos que são contratados por posseiros, cumprem sua missão sem pena nem receio que sejam punidos pela justiça. Armados até os dentes entram nas aldeias, espalham o medo entre as crianças, matam as lideranças, ameaçam mulheres e idosos.
Para ser mais claro no ultimo dia 18, foi o fato ocorrido no acampamento Guaiviry, no município de Aral Moreira, que sofreu ataque de pistoleiros fortemente armados. Nesse triste episódio o cacique Nísio Gomes, 59 anos, foi covardemente morto, seu corpo levado pelos pistoleiros. Junto com cacique, foram levadas três menores de idade, uma inclusive uma criança de cinco anos e outras dezenas de pessoas ficaram gravemente feridas. Outras pessoas se dispersaram nas matas com medo da morte.

A esperança de que estes que se refugiaram, ou que foram seqüestrados estejam vivo prevalece nos outros indígenas que permanecem no acampamento. Embora se sabe que em casos anteriores outros indígenas não tiveram a mesma sorte, como o caso de um adolescente que desapareceu em ataques semelhante à comunidade de Mbaraka’y no município de Tacuru, que não foi encontrado até hoje. Outro caso foi o do professor Rolindo Vera, desaparecido após ataque em Ypo’i no município de Paranhos, no ano de 2009.

Além dessas pessoas que morreram, que se foram sem saber para onde. Existem aquelas que estão sobre o risco de morrer a qualquer momento, entre essas pessoas podemos citar: Cacique Ládio, Vereador Otoniel, Cacique Ambrósio e Cacique Carlitos, e outras lideranças, e segundo informações uma Empresa Chamada de Segurança Privada SÉPRIA foi contratada para exterminá-los.
Não precisamos pesquisar muito para achar o verdadeiro culpado por esses assassinatos. O Governo é o principal culpado por essas e por tantas outras chacinas que tiveram índios como vítimas. O governo que esqueceu a constituição, para se aliar aos latifundiários, e juntos ceiam, enquanto banham com o sangue indígena. O mesmo caso questiona-se o papel do Ministério da Justiça que não cumpre com o que é suas responsabilidades em demarcar e proteger as Terras Indígenas.

*Estudante de História da UFRR
Militante do Movimento do Indígena

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Carvalho diz que solução de problemas indígenas em Mato Grosso do Sul é "questão de honra"

http://agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2011-11-24/carvalho-diz-que-solucao-de-problemas-indigenas-em-mato-grosso-do-sul-e-questao-de-honra


Carvalho diz que solução de problemas indígenas em Mato Grosso do Sul é
"questão de honra"
24/11/2011 - 6h54

Daniella Jinkings
Repórter da Agência Brasil




Brasília – O governo federal considera “uma questão de honra” a solução dos problemas enfrentados pelas comunidades indígenas de Mato Grosso do Sul, segundo o ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho. Além da questão do território, a saúde e a educação são as principais preocupações do Estado.

“Para nós, a questão indígena mais importante é Mato Grosso do Sul, onde a incidência de violência e morte é acentuada e a situação de perdas de criança nos ofende profundamente. Estamos fazendo todo o esforço [para reverter essa situação]”, disse o ministro à Agência Brasil.

No dia 20 de outubro, representantes do governo visitaram a comunidade indígena Y’Poi, da etnia Guarani-Kaiowá, no município de Paranhos. Segundo Carvalho, um grupo de trabalho dedicado especificamente à questão indígena foi constituído. A Fundação Nacional do Índio (Funai) e o governo estadual participam do grupo.

Um vídeo produzido pelo projeto Rede de Saberes, divulgado ontem (23), mostra como foi a visita de representantes do governo ao acampamento. Além de denunciar as ameaças de morte sofridas, os indígenas pediram a conclusão do processo de demarcação de terras, escola para as crianças, liberdade para passar pela estrada entre o acampamento e uma fazenda, a oportunidade de plantar na área e condições de segurança.

O secretário nacional de Articulação Social da Secretaria-Geral da Presidência da República, Paulo Maldos, aparece no vídeo comprometendo-se a atender a todos os pedidos da comunidade,
principalmente os referentes à segurança. “Se um pistoleiro chegar, quero que a informação seja passada no mesmo dia para o meu telefone".

Menos de um mês após a visita, houve um ataque de pistoleiros ao Acampamento Tekoha Guaiviry, no município de Amambai. Os índios disseram que o cacique Nísio Gomes foi morto e três moradores do acampamento sequestrados na última sexta-feira (18). O corpo do cacique desapareceu e ainda não há pistas sobre os desaparecimentos. A Polícia Federal e o Ministério Público Federal abriram inquérito para investigar o caso.

No próximo dia 28, um comitê gestor será instalado na cidade de Dourados. De acordo com o ministro Gilberto Carvalho, o governo federal vai divulgar uma série de políticas públicas para os cerca de 44 mil índios da região. “Está próximo [o fechamento de] um acordo com o governo do estado para que a gente consiga ter uma área delimitada para os Guarani-Kaiowá. É uma preocupação, um compromisso”, garantiu Carvalho.

De acordo com o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), nos últimos oito anos cerca de 200 índios foram mortos em conflitos de terra.

Edição: Graça Adjuto

Líder indígena é preso por desacato pela PF ao embarcar em voo com cocar

Fonte: http://noticias.uol.com.br/cotidiano/2011/11/23/lider-indigena-e-preso-por-desacato-pela-pf-ao-embarcar-em-voo-com-cocar.jhtm

23/11/2011 - 21h18

Líder indígena é preso por desacato pela PF ao embarcar em voo com cocar

A Crítica
Por estar carregando um cocar, o líder indígena Paulo Apurinã foi barrado por um fiscal do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Renováveis (Ibama) quando tentava entrar na área de embarque do Aeroporto Internacional Eduardo Gomes. Após discutir com policiais federais, ele acabou detido por desacato, algemado e levado à sede da Superintendência da Polícia Federal (PF) no Amazonas, por volta de 13h30.
De acordo com o também líder indígena Jair Miranha, que acompanhava Paulo, agente ambiental federal do Ibama Sebastião Souza disse que o indígena não poderia embarcar levando seu cocar, alegando que ele era feito de penas de animais silvestres e não tinham o “selo” do Ibama.

“Isso é um desrespeito aos nossos valores culturais. Nos sentimos humilhados na nossa própria terra, passar por uma situação dessa na frente de todas aquelas pessoas, como se fôssemos bandidos. Mas somos indígenas, e esse é nosso jeito de se vestir. O cocar tem um valor cultural para os indígenas”, disse Miranha.

Segundo ele, Apurinã estava levando o cocar no carrinho de bagagens e chegou a justificar o uso do adereço ao fiscal, apresentando seu Registro Administrativo de Nascimento Indígena (Rani), mas o fiscal não permitiu seu embarque mesmo assim e um segurança solicitou apoio da PF

Miranha criticou a postura dos policiais federais, que foram truculentos ao algemar Apurinã e colocar o indígena dentro do veículo. Do aeroporto, ele foi levado para a sede da PF, no bairro Dom Pedro, Zona Centro-Oeste, onde deve prestar depoimento e ser liberado ainda na tarde de hoje.

Com a confusão, Apurinã acabou perdendo o voo para Belo Horizonte, onde participaria da Conferência das Cidades, representando povos indígenas do Amazonas, no evento que começa amanha.

O outro lado

De acordo com informações prestadas pelo agente ambiental federal do Ibama, Sebastião Souza, na sede da PF, hoje à tarde, ele chegou a barrar a entrada de Paulo Apurinã no salão de embarque, uma vez que as penas usadas no cocar dele são de araras azuis.

“Foi quando ele se alterou, dizendo que nenhuma lei do branco estava acima da condição dele de índio, e começou a discussão”, relatou. Foi nesse momento que um segurança do aeroporto acionou a PF, segundo o agente.

Sebastião ainda contou ter solicitado a comprovação de que Apurinã era mesmo indígena e, após a apresentação do Rani, vendo que a discussão não cessaria, o agente do Ibama decidiu liberar a passagem do líder indígena, mesmo com o cocar.

Mas antes que os ânimos se acalmassem, os policiais federais chegaram ao local, o que teria feito com que Apurinã se exaltasse ainda mais e ofendesse os federais, segundo o agente da PF e auditor de tráfego internacional do aeroporto, Júlio César Queiroz. “Quando abordado, ele afrontou a polícia”, relatou.

Segundo informou Queiroz na sede da PF, Apurinã chegou a empurrar um dos policiais e recebeu voz de prisão, mas resistiu e passou a insultar os policiais, sendo detido e levado para a sede da PF.

Queiroz afirmou que foi lavrado um Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO) e Apurinã deve responder, em liberdade, pelos crimes de desobediência e desacato à autoridade. Até as 17h, ele permanecia na PF, onde presta depoimento, e depois deve ser liberado.

O agente do Ibama, o policial federal envolvido na ocorrência, o segurança que acionou a PF e Jair Miranhã também continuam na sede da PF.

MPF denuncia seis pessoas por morte de professores indígenas no MS em 2009

http://agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2011-11-23/mpf-denuncia-seis-pessoas-por-morte-de-professores-indigenas-no-ms-em-2009

MPF denuncia seis pessoas por morte de professores indígenas no MS em 2009
23/11/2011 - 20h40

Daniella Jinkings
Repórter da Agência Brasil

Brasília - O Ministério Público Federal (MPF) em Mato Grosso do Sul denunciou seis pessoas pelo envolvimento no ataque à aldeia Ypo'i, no município de Paranhos, que resultou na morte de três professores indígenas. Entre os denunciados estão políticos e fazendeiros da região, acusados de homicídio qualificado, ocultação dos cadáveres, disparo de arma de fogo e lesão corporal contra idoso.

A denúncia foi protocolada em outubro na Justiça Federal em Ponta Porã por indígenas da etnia Guarani-Kaiowá. Caso a denúncia seja aceita pela Justiça, os acusados responderão a ação penal na condição de réus. Entre os denunciados, estão os filhos do proprietário da Fazenda São Luís, o
vereador e presidente do Sindicato Rural de Paranhos, Moacir João Macedo, e o ex-candidato a prefeito Joanelse Tavares Pinheiro.

As mortes ocorreram em outubro de 2009 durante expulsão dos indígenas que reivindicavam a área da Fazenda São Luiz. Alguns dos denunciados e outras pessoas ainda não identificadas chegaram ao local em caminhões e caminhonetes, atirando com pelo menos sete armas de fogo e agredindo o grupo de 50 indígenas.

Depois de expulsos em 2009, os Guarani-Kaiowá reocuparam a área de reserva legal da Fazenda São Luís em 19 de agosto de 2010. Eles estão amparados por decisão do Tribunal Regional Federal da 3ª Região que cassou a ordem de reintegração de posse até a produção de prova pericial antropológica.

Edição: Aécio Amado

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

MOÇÃO DE REPÚDIO CONTRA VIOLÊNCIA

Marçal Guarani, Durvalino, Marcos Verón, prof. Rolindo Vera, Prof Genivaldo, Lísio Gomes... presentes!


Há mais de 28 anos assassinatos, episódios de violência física, linguística, política e econômica contra os povos indígenas de Mato Grosso do Sul seguem impunes. Esses episódios estão muito bem documentados segundo critérios acadêmicos por diversos historiadores em dissertações, teses e em Centros de Documentação Indígena, disponíveis para consulta pública nas universidades públicas e comunitárias em Mato Grosso do Sul.

Muitas pesquisas históricas indicam que os indígenas foram expulsos das terras à medida que os conquistadores chegaram e, posteriormente, fazendas foram implantadas, florestas desmatadas, impondo mudança dos índios para outras localidades. Esses conflitos atuais estão relacionados à tentativa dos índios em retomar o espaço que lhes pertence.

Tragicamente, essa expropriação, ancorada por preconceitos engendrados desde a chegada dos portugueses e espanhóis para justificar a colonização, encontra respaldo e aumenta com a impunidade cuja mensagem nos parece clara: a vida de um índio pouco vale.

Diante da denúncia do assassinato e desaparecimento do corpo do cacique Nísio Gomes na última sexta-feira (18), em Guaviry, Aral Moreira, MS, a Associação Nacional de História, seção MS, vem a público fazer coro e apoiar o clamor dos Kaiowá e Guarani às autoridades para que ajam frente às verdadeiras milícias que, a despeito do Estado, seguem agindo na região.

Campo Grande, MS, 23 de novembro de 2011.

Associação Nacional de História, seção MS.

www.anpuhms.org

00 55 67 3312-3447



terça-feira, 22 de novembro de 2011

Entre desaparecimento e relatos de atentado, a dor da mais velha guarani-kaiowa

Fonte Original: http://www.campograndenews.com.br/cidades/interior/entre-relatos-de-atentado-a-dor-da-mais-velha-india-guarani-kaiowa

"Não era assim que acontecia antes, não tinha ameaça, bebida, nunca teve violência. Agora está pior do que antes", desabafa Eleonora, 105 anos. Ela é avó de Nísio Gomes, o líder indígena desaparecido desde sexta-feira.

2
Paula Maciulevicius
Eleonora Vasque, 105 anos de aldeia, antes mesmo de o município de Amambai existir. (Foto: João Garrigó)

Em meio à tensão depois de relatos de ataque ao acampamento de indígenas Guaiviry, encontrar uma senhora de 105 anos, avó de Nísio Gomes, a liderança desaparecida desde sexta-feira, é um achado.

O mais surpreendente não é nem Eleonora Vasque ter mais de um século de vida. É ela ter a idade que tem, nunca ter saído da aldeia em que nasceu, ter visto de perto as lutas pela conquista de terras e agora saber da possível execução do neto de forma covarde.

Mãe de 14 filhos, ela carrega no corpo e no rosto marcado a história da sobrevivência dos guarani-kaiowa.

O Campo Grande News foi até a aldeia Amambai em busca de relatos da vida de Nísio Gomes, líder indígena que desapareceu depois de um atentado no acampamento Guaiviry. O clima de tensão já relatado na área ultrapassa os limites entre as fazendas Querência Nativa e Ouro Verde. Medo, apreensão e angústia cercam também os moradores da aldeia.

As notícias foram chegando aos poucos. Através de ligações telefônicas e idas do acampamento até a aldeia. A distância de aproximadamente 30 quilômetros encurtou depois do desaparecimento de Nísio. A todo momento informações novas chegam para situar quem está na aldeia dos passos à procura do corpo de Nísio.

Da placa que indica a entrada da aldeia, a poucos quilômetros da cidade de Amambai, segue-se reto por um longo caminho. Em meio à mata, casebres vão surgindo e pouca movimentação. Até que um senhor indígena leva a equipe até a área onde morava Genilto e os demais familiares, filho e parentes de Nísio. Ali estavam reunidos alguns guarani-kaiowa que nos levam ao encontro de dona Eleonora.

Uma das netas, Aparecida Lopes, 44 anos, sorridente e tagarela, é quem fala do sofrimento de saber do ataque contado pelos guarani-kaiowá. E cita o tesouro que a aldeia guarda: uma senhora de 105 anos. Quase quatro décadas a mais que o surgimento de Amambai.

Ao chegar à casa de Eleonora, a inacreditável senhorinha de 105 anos está varrendo o quintal. Firme, sem precisar de nenhum apoio. A neta conversa em guarani, explica que a imprensa está ali e pede que a filha chame as outras netas mais próximas de Eleonora.

Neta de Eleonora com foto do bisavô nas mãos. Gente que viu a aldeia nascer. (Foto: João Garrigó)

"Ela fala que era tudo mato aquela cidade. Nasceu pai, mãe, avô, tudo dela aqui", diz Aparecida mostrando a foto do pai de Eleonora.

Dos 14 filhos que ela teve, a metade já morreu, mas ela continua firme e forte, com uma saúde de ferro.

Eleonora enxerga, ouve e fala muito bem. "Não era assim que acontecia antes, não tinha ameaça, bebida, nunca teve violência. Agora está pior do que antes", observa.

A tradução do guarani para o português fica por conta de Aparecida.

Com mais de um século de vida, foi triste saber da morte do neto nas circunstâncias em que a comunidade relata. Tanto que é a família demorou a contar.

"Antes eu não contei porque ela estava com dor. Quando eu contei ela chorou, disse que queria ver o corpo. Depois achei que tivesse esquecido, mas daí ela comentou com ela que o Nísio tinha ido...", conta a outra neta Regina Lopes, 33 anos.

Por mais que ela não fale o português, entendeu que a equipe ainda falava dos relatos do ataque sofrido. Os olhos da avó de Nísio por um momento viraram tristeza. Quietinha, mexia com as mãos e parecia já não prestar tanta atenção na conversa. O assunto ficou perdido na memória de quem já viveu tanto.

"Em pleno século XXI, índios lutando pelos direitos. Nós que somos nativos lutando pela terra que foi levada pelo europeu", desabafa Crescencia Martins, 25 anos, uma das netas de Eleonora.

"Quando eu contei ela chorou, disse que queria ver o corpo...". Preciosidade da terra, a índia, avó de Nísio tem 105 anos. (Foto: João Garrigó)

Esperado - Mesmo estando na aldeia a cabeça e o coração estão na área Guaiviry, afirmam. "Não é fácil a demarcação de terra. Quando tem acampamento, sempre há morte. Quando fala que vai entrar na terra, a gente já sabe. Enquanto não tiver outro tipo de organização, mais morte vai ter", descreve Crescencia.

Para eles que ficaram ali cuidando das casas onde Nísio e os filhos moravam, o sentimento em relação ao ataque descrito pelos índios é de surpresa.

"Dessa vez já tinha dado 15 dias. É a terceira vez que entram ali, das outras duas, em dois dias já despejavam. O risco de morte é na primeira semana, passou e a gente pensou agora está firme e não estava", completa.

No final de semana que passou, os filhos, netos, noras e cunhados de Nísio que ainda estavam na aldeia foram todos para Guaviry. Gente que não deixou de lutar e tomou para si a vontade a batalha de Nísio.

Nas casas o que ficou, ficou. Crescencia e a família sabem que eles não voltam para a aldeia e mesmo assim ficam de olho. "Precisa olhar a casa, ver se não sumiu nada. É tudo deles".

Na aldeia Amambai, área onde Nísio e familiares moravam antes de Guaiviry. (Foto: João Garrigó)

Atentado - Os guarani-kaiowa estão acampados na região desde o dia primeiro deste mês. Nisio Gomes, líder indígena de 59 anos, segundo os índios sofreu ameaças de morte dois dias antes do ataque relatado.

Eles dizem que Nísio foi baleado na cabeça e por todo corpo, após 40 pistoleiros chegaram no lugar procurando por ele. Conforme divulgado pelo Cimi (Conselho Indigenista Missionário), durante a correria de tiros, três jovens um de 14 anos, outro de 15 e um de 16 anos teriam sido baleados.

De acordo com lideranças indígenas de aldeias vizinhas, o garoto de 14 anos é neto de Nisio. Ele chegou a ser socorrido, medicado e já retornou ao acampamento. Os demais, incluindo o líder, continuam desaparecidos.

O MPF (Ministério Público Federal) abriu investigação e a perícia da Polícia Civil constatou marcas de sangue em meio à folhas, que remontam a cena de um corpo sendo arrastado, possivelmente de Nisio.

Conforme a comunidade, a ação dos pistoleiros foi por volta das 6h30 da manhã de sexta-feira. De acordo com os índios informaram, eles ocupavam uma cerca caminhonetes Hilux e S-10. Na caçamba de uma delas o corpo de Nisio teria sido levado.

Arcabuz ou carabina

O artigo abaixo, do jornalista Jânio de Freitas, foi publicado no jornal Folha de São Paulo, no endereço http://www1.folha.uol.com.br/fsp/poder/10382-arcabuz-ou-carabina.shtml


Ou a Constituição é uma fraude ou é fraudada pelos setores que representariam o Estado em relação aos índios



Dezoito dias antes de jagunços encapuzados assassinarem, na sexta-feira, o cacique kaiowá-guarani Nísio e desaparecerem com uma criança e dois adolescentes no ataque à tribo, o Cimi, Conselho Indigenista Missionário, emitiu um documento para os meios de comunicação e, em especial, o governo: mais uma vez, alertava para o agravamento da matança de índios na apropriação de terras por fazendeiros de Mato Grosso do Sul.

Na ocasião em que o núcleo kaiowá era atacado a bala, no Palácio do Planalto realizava-se, com a sanção presidencial à Comissão da Verdade, justificado "marco dos direitos humanos na história do país", nas palavras da própria ministra dos Direitos Humanos.

O ato no Planalto foi excepcional, em Mato Grosso do Sul foi normal. Ao menos 250 índios foram assassinados, da posse de Lula para cá, conforme registros do Cimi.

As estatísticas oficiais e oficiosas confirmam a honraria de Mato Grasso do Sul no ímpeto genocida. Se a média brasileira é de 24,5 homicídios por 100 mil habitantes, só na reserva indígena de Dourados chega a 145 para a mesma quantidade da população.

Os índios que perdem as terras, a liberdade, a cultura e a vida têm um lugar próprio na Constituição, no qual lhes são assegurados o direito e a proteção à terra onde possam desfrutar com liberdade e dignidade a vida e sua cultura.

Ou a Constituição é uma fraude ou é fraudada pelos múltiplos setores que representariam o Estado e os governos em relação aos índios. E se ocorre esta fraudulência, está em plena inconstitucionalidade, situação ilegal cujos responsáveis a legislação submete, inclusive, a sanções penais.

Nas escolas ensinam-se, com certo horror, os esforços do colonizador português para a escravização dos índios e a longa dizimação de tribos, pelo país afora, reduzidas a milhares de cadáveres. Horror e pedagogia seletivos: só recaem sobre o passado distante. Ou sinalização sutil, talvez, de que o presente dos índios está no fim, pelos mesmos métodos e motivos dos apropriadores de terras dos nossos séculos remotos. Justificados em sua versão atualizada pela soja, pelo gado, a exportação, o subsídio, que são denominações finórias da mesma voracidade de outrora.

Ministério da Justiça, Ministério dos Direitos Humanos, Ministério da Igualdade Racional, Fundação Nacional do Índio (Funai, sim, mas "do Índio"?) -o dispositivo protetor é bastante, perfeito. Não precisa de mais nada para deixar fazendeiros-jagunços e jagunços-fazendeiros praticarem a verdadeira política indigenista brasileira.

Cimi rebate acusações e pede intervenção federal em Mato Grosso do Sul

Inserido por: Administrador em 21/11/2011.
Fonte da notícia: Secretariado Nacional - Conselho Indigenista Missionário (Cimi)

“Já me bateram na beira da rodovia quando eu vinha à noite. Tenho medo, mas não paro [a luta pela terra], porque, se eu morrer, misturo com a terra de novo”, disse o cacique Nísio Gomes a Agência Brasil em setembro de 2009. Na ocasião revelou ter sido expulso em 1975 da terra pela qual morreu no último dia 18 de novembro.


O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) repudia com veemência as acusações infundadas e sem escrúpulos feitas pelo presidente do Sindicato Rural de Aral Moreira, Osvin Mittanck, através de um órgão de imprensa do Mato Grosso do Sul. Esse senhor desprovido de verdade diz querer justiça, sendo ela regozijada com a desocupação dos indígenas daquilo que ele considera como fazenda invadida e que a Fundação Nacional do Índio (Funai) e o Cimi dêem garantias de que não incentivarão novas invasões. Em nenhum momento pede para que os assassinos do cacique Nísio Gomes e de supostamente dois jovens, desaparecidos, sejam trazidos a público para comprovar a natureza da defesa que voluntariamente faz de seus associados.

Numa fajuta tentativa de descaracterizar o covarde ataque, coloca-se a si mesmo e a seus associados na situação de vítimas de uma grande injustiça, se defendendo sem ser atacado, ventilando escleroses múltiplas e deixando uma pergunta que deverá ser feita pela Polícia e Justiça Federais: quem teria interesse em entrar numa área particular para assassinar e atacar cruelmente indígenas lá acampados? A Funai tampouco o Cimi não são proprietários de terras tradicionais e sob litígio. Percebe-se a clara intenção de desvirtuar a questão numa tentativa desesperada de colocar as reais vítimas no banco dos réus. Por quê?

Desde março do ano passado, o Cimi vem sistematicamente pedindo a intervenção Federal no Mato Grosso do Sul para garantir a segurança dos indígenas – atacados mês a mês sem piedade ou descanso dos assassinos. Quantas mortes e violência terão de ocorrer para que tal decisão seja tomada? Outras mais podem estar a caminho: de acordo com informações vindas dos municípios de Amambaí e Ponta Porã, grupos armados continuam mobilizados e as ameaças de novos ataques seguem presentes. Reiteramos a necessidade da intervenção, conforme prevê a constituição no artigo 34, VII – b, quando há violação de direitos da pessoa humana, respaldado também no preâmbulo e artigo 1º da Constituição e que se justifica como sendo uma medida de caráter urgente e imprescindível.

É exatamente disso que os agressores dos indígenas têm medo: da presença do Estado. Até o momento não há e por conta disso resta o terror aos indígenas e não o respaldo das leis nacionais e internacionais que garantem o direito ao território tradicional – invadidos e devastados pela cana de açúcar, soja e pasto. O presidente do Sindicato Rural diz duvidar de que os Kaiowá sejam capazes de relatar todo o noticiado e denunciado pelo Cimi. Aqui respondemos que os indígenas estão longe da capacidade criativa de invenção apresentada pelo presidente do Sindicato Rural e se resumem a relatar o que lhes acontece cotidianamente.

O Cimi recebeu denúncias, ainda não confirmadas, da existência de uma lista de lideranças Kaiowá Guarani que estariam marcadas para morrer. As denúncias nomeiam quatro importantes lideranças. A comunidade de Guaiviry informou que pistoleiros impediram o acesso de cerca de 50 indígenas que levavam apoio ao acampamento após o assassinato do cacique Nísio Gomes, apesar da segurança fornecida pelos agentes policiais na região. Também nos inquieta as declarações do presidente do Sindicato Rural de Aral Moreira a respeito de suposto forjamento dos ataques aos indígenas para “jogar a culpa nos fazendeiros”.

A propósito, ataques análogos ao que vitimou fatalmente o cacique Nísio foram sofridos pelas comunidades Kaiowá Guarani de Y’Poy e M’Barakay. Demonstração de que se trata de formação de milícia armada paramilitar, ainda mais se levarmos em conta que os armamentos e as munições utilizadas são, via de regra, de uso restrito. A conclusão não é apenas do Cimi, mas também das próprias comunidades atacadas e do Ministério Público Federal (MPF).

O Cimi rechaça o bestiário de infames bobagens ditas pelo senhor Mittanck e ressalta que nesse momento é preciso investigar quem são os pistoleiros e seus mandantes; onde está o corpo do cacique bem como o paradeiro de dois jovens desaparecidos; intervenção Federal imediata no Estado do Mato Grosso do Sul, pois a situação é de grave violação aos direitos humanos; presença da Força Nacional para garantir a segurança dos indígenas e conclusão urgente do processo de identificação e delimitação das terras indígenas do Estado.

Brasília, 21 de novembro de 2010.

Cimi – Conselho Indigenista Missionário.



segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Após morte de líder indígena, clima na cidade é como se nada tivesse acontecido

Notícia do site Campograndenews.


Dois dias após sumiço do líder guarani-kaiowá, população segue na rotina e os comentários, em geral, são de crítica aos índios.


Entre moradores da região que foi palco do ataque a um acampamento indígena, na última sexta-feira, o clima é de normalidade.Dois dias depois do líder Nisio Gomes desaparecer, as conversas com quem vive na cidade revelam pouca ou nenhuma preocupação com que, segundo os índios foi um ataque com vários homens armados.
Em meio à população, o que se escuta é “eu ouvi falar”, “fiquei sabendo hoje” Diante do relato dos índios, de que o líder foi executado e corpo levado pos pistoleiros, a reação é de indiferença. “Para nós é normal, porque os indígenas, todo mundo sabe que eles bebem, fazem horrores, se acampam desse jeito e ninguém gosta. Se eles tem aldeia, tinha que ficar lá, ninguém gosta de ser invadido”, declara a jovem Bruna, 22 anos.

Enquanto o clima no acampamento entre as fazendas Querência Nativa e Ouro verde, quase na divisa dos municípios de Aral Moreira e Amambai, é de insegurança entre as vítimas do atentado ocorrido na última sexta-feira, os depoimentos colhidos pelo Campo Grande News revelam um grau de intolerância com a presença dos índios.

Segundo relatos de moradores a cidade de Amambai foi “tomada” por indígenas. “Está cada vez mais invadida e a gente é obrigado a aceitar. O que se pode fazer mais?”, comenta Rosenildo Pereira, de 32 anos.
A explicação para os relatos do casal acima vem dos benefícios que, segundo eles, são concedidos aos indígenas. De acordo com eles, os guarani-kaiowá têm desde atendimento preferencial em hospitais até ajuda de custo do governo para construção de moradias.

“Você chega no hospital com uma criança passando mal e o indígena que está com um corte causado numa briga entra primeiro. Vai nas aldeias para se ver, estão quase chegando na cidade e com casas boas. Tudo é o governo que dá. A gente que trabalha como eu trabalho mal tem uma motocicleta para andar”, desabafa o casal.

O senso comum de que índio não produz também é citado. “Eles reclamam, aí entram em uma fazenda produtora e tomam. Querem terra, mas não fazem nada. Vem até a cidade para comprar tudo. Porque vai tirar de quem está plantando e produzindo sendo que eles não vão produzir nada?” questiona Bruna.

A posição que os moradores ouvidos adotam é baseada em históricos de brigas e confusões na cidade de Amambai, que, pelos testemunhos, parece ser algo comum. “Fiquei sabendo por terceiros. Morreu um, morreu cinco ou seis”, diz um morador.
Pessoas como Rosenildo até procuraram a notícia nos veículos locais, mas não encontraram. “Eu olhei depois que me falaram, mas não achei nada. E tudo o que acontece sai, mas não tinha, eu não achei. Então alguém por trás disso deve ter”, sugere.



O mesmo foi vivenciado pelo aposentado Ramão Moreira, de 63 anos, que soube apenas ao ver o caso em noticiário nacional. “Vi no jornal agora uma parte falando, eu não estava aqui na cidade, então não sei o que falar, só pelo que vi na TV”, comenta.

Seo Ramão está há quase 50 anos na região e desde que chegou conhece a área ocupada pelos índios como produtora de erva-mate. Ele conta que a propriedade tinha cerca de 8 mil hectares e abrigava muitos trabalhadores, mas com o fim da produção de erva, a fazenda passou a viver da pecuária. Mais tarde o dono, um advogado, morreu e a terra foi dividida entre herdeiros, segundo conta.

A terra onde estão acampados cerca de 60 guarani-kaiowá está com o relatório de identificação como território indígena em fase de conclusão. “Eles dizem que foi um cemitério de indígena ali. Índio em cemitério vai ter em todo lugar. Aqui mesmo tem um desativado que acho que tem um ou mais, se for assim, eles sempre vão dizer que as terras são deles”, argumenta Ramão.

Tragédia anunciada?
-Antes do sumiço nesta sexta-feira, o líder Nisio já vinha sofrendo ameaças, segundo a comunidade. Quanto aos possíveis mandantes, os testemunhos são claros. “Eu não tiro a razão. Governo e Funai não fazem nada. Daí os fazendeiros contratam pistoleiros que sentam e dibuiam enquanto a Justiça demora. Só que cada um tem o seu direito”, acrescenta um caminhoneiro da região. “Vai se complicar se não tomar uma providência. Mais índio vai morrer. Chama a Polícia Federal que intervem para proteger de um confronto entre indígenas e fazendeiros e só”, acrescenta.

Atentado - Segundo informações do CIMI (Conselho Indigenista Missionário), pelo menos 40 pistoleiros estariam envolvidos no ataque. Segundo o relato dos que estavam no acampamento, Nísio foi executado com tiros de calibre 12. Ainda conforme informações do órgão, os homens estavam com máscaras, jaquetas escuras e pediram para todos deitarem no chão durante o ataque.

De acordo com a comunidade, o líder indígena foi executado em frente ao filho, que ainda tentou impedir e foi contido com tiros de bala de borracha. De acordo com o Cimi, a ação dos pistoleiros foi respaldada por cerca de uma dezena de caminhonetes – marcas Hilux e S-10 nas cores preta, vermelha e verde. Os índios contaram que na caçamba de uma delas o corpo do cacique Nísio foi levado.
Os indígenas ocuparam a área onde aconteceu o conflito há cerca de 15 dias e já vinham recebendo visitas da Funai e da Polícia Federal. Ainda assim, como vem acontecendo em outras áreas em conflito, isso não tem sido suficiente para coibir as agressões realizadas por homens armados a serviço dos fazendeiros da região, reclama o movimento.
Mesmo com o episódio, indígenas já afirmaram que vão permanecer no acampamento.
A comunidade vive na beira de uma rodovia estadual antes da ocupação do pedaço de terra no tekoha Kaiowá, aponta o Cimi. O acampamento atacado fica na estrada entre os municípios de Amambai e Ponta Porã, perto da fronteira entre Brasil e Paraguai.



Luiz Henrique Eloy - Terena
Projeto Rede de Saberes
Universidade Católica Dom Bosco (UCDB)
MSN: luiz-eloy@hotmail.com
Cel.: (67) 9256-2433 / 9616-8645



Apoio MOVIMENTO INDIGENA MS

ARPIN-SUL Nota de Apoio.
A Arpin-sul comprometida com a causa indígena vem neste momento prestar solidariedade e apoio ao movimento indígena do Mato grasso do Sul em especial a família do cacique Nisio Gomes guarani kaiowa executado do acampamento tekoha guaiviry no dia 18.
Sabemos do sofrimento e das dificuldades que encontramos quando em luta por nossos territórios, mas acreditamos que e nas horas difíceis que achamos forças para resistir, pois aqueles que suas vidas perdem em luta serão estrelas que iluminaram o caminho da resistência e nos conduziram com certeza a vitoria.
Esta violência cometida contra esta comunidade indígena do Mato Grosso do Sul e uma afronta a os direitos humanos e sem duvida demonstra a incapacidade do estado brasileiro em respeitar e tratar seus índios, a morosidade da FUNAI e a inoperância do ministério da justiça e a falta de dialogo do governo federal aumentam a discriminação, tornando a luta dos povos indígenas empecilho para crescimento.
Companheiro de luta do Mato grosso do Sul da ATY GUASY E ARPINPAN nos da ARPIN-SUL estamos sentimos na pele a dor e o sofrimento de vocês e pode ter certeza que seremos parceiros nesta luta, pois com a morte de Nisio uma estrela brilhou dizendo que nossa vitoria esta próxima, pois o ato que cometeram e foi um sinal de desespero de nossos inimigos.
Não podemos aceitar que continuem matando nossas lideranças exigimos da justiça rapidez em achar os assassinos, para que não seja mais um caso impune contra os povos indígenas da Brasil.
Arpin-sul.

Vamos ouvir a fonte antes que calem sua voz

Caroline Maldonado

Fico satisfeita ao ver que alguns jornais do estado de Mato Grosso do Sul,
deram devida atenção ao fato ocorrido no acampamento Guaiviry, no município
de Aral Moreira, que sofreu ataque de pistoleiros fortemente armados. Foi
morto o cacique Nísio Gomes, 59 anos, enquanto outras pessoas ficaram
feridas. Porém, é preocupante que tenham sido poucos os veículos que assim
procederam. Inclusive, quando foi denunciado que os pistoleiros estavam na
área, já coagindo as famílias indígenas, há alguns dias, houve veículos que
pouco se importaram em apurar os fatos.

Observo também, e aí é algo que muito me entristece, que muitos jornais
citam o assassinato como "suposto", colocam o fato de tamanha violência
contra aquelas famílias, como um fato que "teria" acontecido. Esses termos
são muito frequentes nas notícias em todo o estado, pelo que percebemos.
Isto, enquanto os termos propostos e ditos por não indígenas são fielmente
redigidos, tais como "os índios invadiram", "não houve matança de índios”.

No caso de não se ter certeza ou confirmação de se houveram, de fato,
assassinatos, utiliza-se a expressão "teria sido assassinado". Isto eu
compreendo. E se a certeza for considerada apenas a partir de fontes
oficiais, ela demora a chegar, quando chega, embora sejam muitos estes
casos em MS. Porém, não vejo os jornalistas utilizarem o termo "teria" para
as falas contrárias a devolução ou retomada (duas palavras pouco
utilizadas, alternativas para “invasão”) das terras indígenas. Note que
quando as falas não são de indígenas se utiliza: "a Funai disse que os
índios invadiram...", "a polícia informou que os índios fizeram reféns...".
São usados verbos que dão tom de verdade, de algo já confirmado, já
apurado. É assim que o leitor ou espectador percebe.

Fontes como o Kaiowá, Tonico Benites (que enviou em primeira mão a
denúncia), doutorando em Antropologia, na Universidade Federal do Rio de
Janeiro (UFRJ), consultor de educação indígena do Ministério da Educação
(MEC) e membro da Aty Guasu (Assembleia dos Guarani) não são tão legítimas
e confiáveis quanto as fontes oficiais, como Fundação Nacional do Índio
(Funai), Ministério Público Federal (MPF) e Polícia? Por que? Por que não
são consideradas a ponto de que se afirme no texto noticioso: "segundo o
indígena aconteceu, houve..."? Por que o uso de "teria acontecido"? Este
"teria", que venho observando é muito grave, porque leva a sociedade não
indígena a pensar que isso de fato "teria" acontecido, enquanto isto, na
verdade, aconteceu. E, quando visitamos os acampamentos, podemos sentir o
tom de verdade nas falas emocionantes e entristecedoras desses indígenas,
dessas famílias, que são pessoas como nós, que são famílias como as nossas.

Sempre no curso universitário, aprendemos a ouvir também o "seu João", a
"dona Maria", para humanizar a matéria, para não cair no hábito das fontes
oficiais que tornaria o Jornalismo em porta voz destes órgãos. Jamais,
gostaríamos que nós, jornalistas, fossemos vistos assim, não é verdade?

Acredito que a rotina das redações, em muitos casos, impede o jornalista de
ir, pessoalmente, apurar os fatos. Isto acontece em todos os assuntos,
sejam questões indígenas ou não. Esta é uma grande dificuldade, que temos
que considerar antes de pensar em criticar o trabalho dos jornalistas.
Também, devemos considerar que muitos não são contra os índios, não
produzem assim por malícia, apenas desconhecem a realidade desses povos.
Porém, se não temos as condições necessárias para colocar um tênis velho,
que pode ficar vermelho de terra ou de sangue, no caminho dos acampamentos
indígenas, à procura da informação precisa e devidamente apurada, pelo
menos vamos abandonar o “teria”, digitado inúmeras vezes sob o ar
condicionado das redações.

Vamos abandonar os termos que reforçam estereótipos sobre as famílias, as
crianças, os jovens, os idosos indígenas. Isto tem levado pessoas, que
confiam, que ouvem, que leem, que assistem nosso trabalho a pensar muito
mal dos índios e tratá-los como “bichos”, bem como relatou um indígena, no
acampamento Y Po’i, em Paranhos, na oportunidade da visita do secretario
Nacional de Articulação Social da Presidência da República, Paulo Maldos,
em outubro deste ano.

Não vamos decepcionar nossos mestres! Vamos ouvir, o “seu João”, a dona
“Maria”, ainda que por telefone. Vamos ouvir o “seu Nísio”, antes que calem
sua voz, nos impedindo de fazer nossas atividades mais nobres, enquanto
jornalistas: ouvir e relatar a muitos!

Criança é encontrada; além do líder Nísio, seguem desaparecidos mais dois de Guaiviry

Por Spensy Pimentel

Ao menos três indígenas seguem desaparecidos após o ataque ao grupo kaiowá no local conhecido como Guaiviry, no município de Aral Moreira (MS), entre Ponta Porã e Amambai. A informação foi dada por integrantes do Conselho da Aty Guasu, movimento político guarani-kaiowá, ontem à noite.

Ontem (19), os indígenas que se haviam dispersado pela mata após o ataque dos pistoleiros na sexta-feira, começaram a voltar para o acampamento. Segundo o Conselho da Aty Guasu, cerca de 150 pessoas já estavam no local ontem à tarde – na sexta, tinham permanecido ali menos de dez indígenas.

Segundo as testemunhas que prestaram depoimento na sexta à noite na Delegacia da Polícia Federal em Ponta Porã, além do líder Nísio Gomes, tinham sido levadas pelos pistoleiros três menores de idade, inclusive uma criança de cinco anos. No entanto, não se tinha certeza das informações sobre essas desaparições devido à forte tensão e a dispersão do grupo, com a confusão. Com alívio, a comunidade encontrou ontem a criança conhecida como Nenein (diminutivo de nenê, em guarani), de apenas 5 anos, em meio às pessoas que retornavam.

Pelo menos Nísio, segundo as testemunhas, foi alvejado por balas comuns no próprio local do ataque. Ele sangrava muito e estava desfalecido quando foi levado pelos agressores. Outros integrantes do grupo foram atingidos por projetis de borracha.

Desde sexta, além da Polícia Federal, a Funai e a Força Nacional prestaram assistência no local do crime. O Ministério Público Federal manteve contato com as testemunhas do ataque na delegacia em Ponta Porã, mas o procurador local não quis adiantar detalhes sobre as medidas que serão tomadas.

Os indígenas têm esperança de que ainda possam ser encontrados sobreviventes. Recentes episódios semelhantes não tiveram desfecho positivo: um adolescente desaparecido em circunstâncias semelhantes num ataque à comunidade de Mbaraka'y (município de Tacuru), em dezembro de 2009, não foi encontrado até hoje. Tampouco há notícia do professor Rolindo Vera, desaparecido após ataque em Ypo'i (município de Paranhos), em outubro de 2009.

Em 2007, segundo o movimento Aty Guasu, durante ataque semelhante ao de sexta que resultou no assassinato da xamã Xurite Lopes, na área conhecida como Kurusu Amba, em Coronel Sapucaia, duas crianças foram levadas pelo grupo de pistoleiros e abandonadas no centro da cidade de Amambai.

Vocês não deixem esse lugar. Cuidem com coragem essa terra. Essa terra é nossa. Ninguém vai tirar vocês...Cuidem bem de minha neta e de todas as crianças. Essa terra deixo na tua mão. Guaiviry já é terra Indígena”: essas foram as últimas palavras de Nísio Gomes, segundo divulgado ontem pelo Conselho da Aty Guasu.


Aty Guasu recebe solidariedade nacional e internacional

Enquanto se aguarda novidades sobre o caso de Guaiviry, as lideranças do movimento Aty Guasu permanecem em intensa articulação política. O movimento político guarani-kaiowá também está ligado à Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) e integra o Conselho Continental do Povo Guarani.

No momento, a Aty Guasu está em contato com a Secretaria de Direitos Humanos, do governo federal, para pedir proteção especial aos sobreviventes do ataque em Guaiviry, sobretudo as principais testemunhas no caso. A ONG inglesa Survival está divulgando internacionalmente o caso. Organismos multilaterais também estão procurando membros do conselho para informar-se do caso. Mais informações sobre essas articulações devem ser divulgadas até amanhã.

Nomes

Em entrevista ao site Midiamax (www.midiamax), uma das testemunhas deu um dos nomes que estão sendo apontados pelos indígenas como dos autores do ataque: Paulo Ricarte, administrador da fazenda Ouro Verde - uma das três que incidem sobre a área onde eles estão acampados.

Ainda não há notícia de que a Polícia Federal esteja agindo para convocar esse ou outros apontados pelas testemunhas para depor.


Luiz Henrique Eloy - Terena
Projeto Rede de Saberes
Universidade Católica Dom Bosco (UCDB)
MSN: luiz-eloy@hotmail.com
Cel.: (67) 9256-2433 / 9616-8645