Por Spensy Pimentel
Ao menos três indígenas seguem desaparecidos após o ataque ao grupo kaiowá no local conhecido como Guaiviry, no município de Aral Moreira (MS), entre Ponta Porã e Amambai. A informação foi dada por integrantes do Conselho da Aty Guasu, movimento político guarani-kaiowá, ontem à noite.
Ontem (19), os indígenas que se haviam dispersado pela mata após o ataque dos pistoleiros na sexta-feira, começaram a voltar para o acampamento. Segundo o Conselho da Aty Guasu, cerca de 150 pessoas já estavam no local ontem à tarde – na sexta, tinham permanecido ali menos de dez indígenas.
Segundo as testemunhas que prestaram depoimento na sexta à noite na Delegacia da Polícia Federal em Ponta Porã, além do líder Nísio Gomes, tinham sido levadas pelos pistoleiros três menores de idade, inclusive uma criança de cinco anos. No entanto, não se tinha certeza das informações sobre essas desaparições devido à forte tensão e a dispersão do grupo, com a confusão. Com alívio, a comunidade encontrou ontem a criança conhecida como Nenein (diminutivo de nenê, em guarani), de apenas 5 anos, em meio às pessoas que retornavam.
Pelo menos Nísio, segundo as testemunhas, foi alvejado por balas comuns no próprio local do ataque. Ele sangrava muito e estava desfalecido quando foi levado pelos agressores. Outros integrantes do grupo foram atingidos por projetis de borracha.
Desde sexta, além da Polícia Federal, a Funai e a Força Nacional prestaram assistência no local do crime. O Ministério Público Federal manteve contato com as testemunhas do ataque na delegacia em Ponta Porã, mas o procurador local não quis adiantar detalhes sobre as medidas que serão tomadas.
Os indígenas têm esperança de que ainda possam ser encontrados sobreviventes. Recentes episódios semelhantes não tiveram desfecho positivo: um adolescente desaparecido em circunstâncias semelhantes num ataque à comunidade de Mbaraka'y (município de Tacuru), em dezembro de 2009, não foi encontrado até hoje. Tampouco há notícia do professor Rolindo Vera, desaparecido após ataque em Ypo'i (município de Paranhos), em outubro de 2009.
Em 2007, segundo o movimento Aty Guasu, durante ataque semelhante ao de sexta que resultou no assassinato da xamã Xurite Lopes, na área conhecida como Kurusu Amba, em Coronel Sapucaia, duas crianças foram levadas pelo grupo de pistoleiros e abandonadas no centro da cidade de Amambai.
“Vocês não deixem esse lugar. Cuidem com coragem essa terra. Essa terra é nossa. Ninguém vai tirar vocês...Cuidem bem de minha neta e de todas as crianças. Essa terra deixo na tua mão. Guaiviry já é terra Indígena”: essas foram as últimas palavras de Nísio Gomes, segundo divulgado ontem pelo Conselho da Aty Guasu.
Aty Guasu recebe solidariedade nacional e internacional
Enquanto se aguarda novidades sobre o caso de Guaiviry, as lideranças do movimento Aty Guasu permanecem em intensa articulação política. O movimento político guarani-kaiowá também está ligado à Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) e integra o Conselho Continental do Povo Guarani.
No momento, a Aty Guasu está em contato com a Secretaria de Direitos Humanos, do governo federal, para pedir proteção especial aos sobreviventes do ataque em Guaiviry, sobretudo as principais testemunhas no caso. A ONG inglesa Survival está divulgando internacionalmente o caso. Organismos multilaterais também estão procurando membros do conselho para informar-se do caso. Mais informações sobre essas articulações devem ser divulgadas até amanhã.
Nomes
Em entrevista ao site Midiamax (www.midiamax), uma das testemunhas deu um dos nomes que estão sendo apontados pelos indígenas como dos autores do ataque: Paulo Ricarte, administrador da fazenda Ouro Verde - uma das três que incidem sobre a área onde eles estão acampados.
Luiz Henrique Eloy - Terena
Projeto Rede de Saberes
Universidade Católica Dom Bosco (UCDB)
MSN: luiz-eloy@hotmail.com
Cel.: (67) 9256-2433 / 9616-8645
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